sexta-feira, 27 de julho de 2012

O significado de "Norte" em "Mar do Norte"

A verdade é que já suspeitava que isto pudesse acontecer. A mudança da onda de calor para os normais 19 de máxima estava demasiado perto para me deixar acreditar que a costa estaria realmente soalheira. Mas uma pessoa fica triste à mesma, claro está.

Vem o suspiro do lado, o pingo de chuva no lombo ainda descoberto, a aragem que sopra do Mar do Norte (sendo que aqui a palavra-chave é mesmo Norte), eu que inalo continuamente o meu Vicks porque me constipei quando faziam 30 graus em Bruxelas, a frustração em forma de riso-grito, os entre-olhares cheios de "eu já sabia", a desilusão espelhada na cara do outro, o conformar e o arrumar de toalhas e o encaminhamento para a estação e o comboio que nos levará de volta.

Mas depois um de nós exclama "Ah, que belo dia de praia!", entre-olhares sabedores novamente, desatamos a rir a bandeiras despregadas - porque, sinceramente, o que se pode fazer mais para além de rir? - e começamos, entre risos, a ter genuína pena de quem espera um ano inteiro para ir passar férias de uma ou duas semanas naquela terra e não poder sequer tirar a t-shirt nem sentir o sol na pele, e, entre suspiros meio a sério meio a brincar, afirmas que lá para outubro estás com uma depressão em cima porque não apanhaste sol como deve ser um único dia no verão, mas que ficas muito feliz por mim por eu estar bem, já que sou a pessoa europeia do sul mais avessa ao sol e calor que conheces, uma vez que, não obstante Bruxelas ser o que é, só nos levo é mais para norte, incluindo Manchesters e Oostendes e sonho com viagens à Escócia e a Londres em vez de Marselhas ou mesmo Lisboas e Faros. E eu rio - porque, sinceramente, o que posso fazer mais além de rir? -, e rio, rio, rio por um momento quase à beira da loucura, porque andámos a ansiar este dia de praia toda a semana (todo o verão?) e chegou-se ali e foi o que se viu, e pagámos pela viagem, e demorámos duas horas a chegar, e fomos comprar toalha, fatos de banho e protetor solar (grande LOL neste último) quando podíamos ter era ido jantar à luz das velas ou mesmo gozado os 30 graus que se fizeram sentir hoje em Bruxelas num parque qualquer. E continuo a rir porque sinceramente ainda bem que foi assim e que os planos saíram furados, e houve improviso e continuamos sem raio de sol a tocar-nos a pele, porque é destes grandes flops que nos lembraremos mais tarde, daqui a 7 anos, daqui a 17, daqui a 27, daqui a 37, daqui a 47, daqui a 57, daqui a 67, daqui a 77, e é esta a diferença entre os filmes maus e a vida: um mau dia de praia, o único deste verão e no nosso dia especial.

E rio ainda mais um bocado porque estou exatamente onde quero estar, no ponto da vida onde quero estar, com a única pessoa do mundo que queria ao meu lado, a visitar exatamente o que queremos visitar, com os exatos constrangimentos que se quer e as frustrações que fazem o que realmente interessa ter valor, e sem exatamente nada que eu quisesse mudar. Tal como este post, que está confuso e caótico como é devido da loucura que ainda sobra do falhanço deste dia, que falhou tão espetacularmente - e este é o meu ponto - como eu quero que muitos dos nossos dias falhem. Já que são deles que reza sempre a memória.




Na minha opinião, as fotos que marcaram o nosso dia.



S.    

2 comentários:

  1. E eu, que estive hoje na praia até às 8 horas e nem apetecia vir para casa,lembrei-me tanta vez de ti.Até comentei com o pai, Deus queira que a Sara tenha tbém um bom dia de praia... enganei-me redondamente!

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  2. Pois, isto aqui está visto que para praia/piscina etc, só mesmo em férias para o sul da Europa. É aguentar mais um ano e logo se faz férias de sol como deve ser :)

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